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A Medicina Além do Seu Tempo

A criação das primeiras escolas filosóficas na China, tal como as conhecemos atualmente, remontam à Dinastia Zhou do Leste (770-256 AEC), aos períodos conhecidos como Primaveras e Outonos (770-471 AEC) e por Estados Combatentes (403-221 AEC), quando essa dinastia estava passando por diversas crises morais e políticas que culminaram com guerras e conflitos constantes entre os estados. Isso fez com que os chineses tivessem que rever suas posições diante do mundo e da sociedade, e assim novas formas de conceber o ser humano e a natureza, e as relações entre ambos, emergiram na China.
Este período também foi conhecido como Cem Escolas do Pensamento ZHŪZǏ BǍIJIĀ 諸子百家, quando as principais escolas filosóficas chinesas – confucionismo, daoísmo, legalismo, moísmo, YĪN YÁNG 陰陽 e Cinco Movimentos WǓ XÍNG 五行, entre outras – se originaram buscando explicar os motivos que haviam levado a essas crises, o que fazer para superá-las e como agir para que elas não se repetissem. Assim, embora politicamente este tenha sido um período de caos e guerras constantes, é também considerado como o período dourado da filosofia chinesa. LǍOZI 老子 (c. 500 AEC6), KǑNGZǏ 孔子 (c. 500 AEC)7, MÒZǏ 墨子 (c. 470 AEC), ZHUĀNGZI 莊子 (c. 450 AEC), HÁNFĒIZǏ 韓非子 (c. 233 AEC) foram alguns dos principais mestres deste período que tem influenciado o pensamento chinês e, inclusive, a medicina chinesa, até os dias atuais.
Referências:
Huang Di Nei Jing Su Wen: nature, knowledge, imagery in an ancient Chinese medical text. Berkley, Los Angeles: University of California, 2003.
WU, Jing Nuan (trad). Ling Shu, or The Spiritual Pivot. Hawaii: University of Hawaii, 1993. YU, Zi Han et al. NÈI JĪNG LÍNG SÙ KǍO 內經靈素考. Beijing: ZHŌNG GUÓ
ZHŌNG YĪ YÀO CHŪ BǍN SHÈ 中國中醫藥出版社, 1992.

A Organização Mundial de Saúde declarou que a depressão deverá ser o segundo maior transtorno de saúde no mundo, perdendo apenas para doenças cardiovasculares até 2020.

Embora as intervenções farmacológicas e psicoterapêuticas aliviem a depressão em 50%
a 70% dos casos, 47% a 64% dos pacientes com o transtorno, não conseguem resultados
satisfatórios.
Duas revisões sistemáticas recentes, ambas baseadas em dados ocidentais e chineses,
concluíram que a acupuntura era similar em eficácia à farmacologia antidepressiva comparados
com os grupos controles. As pesquisas sugerem que a acupuntura parece ser tão eficaz quanto
as drogas convencionais existentes, sem os efeitos colaterais, o que deve ser considerado como
uma das opções terapêuticas. Duas situações específicas, parecem ser particularmente
favoráveis para incorporar o tratamento de acupuntura: durante a gravidez (Manber 2010) e pós-
AVC (Zhang 2010; Smith 2010).
Em geral, acredita-se que a acupuntura estimule o sistema nervoso e cause a liberação de
neurotransmissores. As mudanças bioquímicas resultantes influenciam os mecanismos
homeostáticos do corpo, promovendo assim o bem-estar físico e emocional.
Estes mesmos estudos indicam que a acupuntura pode ter um efeito positivo específico
sobre a depressão, alterando a química cerebral, aumentando a produção de serotonina (Sprott
1998) e endorfinas (Wang, 2010). A acupuntura também pode beneficiar a depressão através de
outras vias neuroquímicas, incluindo as que envolvem dopamina (Scott 1997), noradrenalina (Han
1986), cortisol (Han 2004) e neuropéptido Y (Pohl, 2002).
A estimulação de certos pontos de acupuntura mostrou afetar áreas do cérebro que são
conhecidas por reduzir a sensibilidade à dor e ao estresse, bem como promover o relaxamento e
a desativação do cérebro “analítico” responsável pela ansiedade e preocupação (Hui, 2010). As
mudanças induzidas pelo estresse no comportamento e na bioquímica podem ser revertidas (Kim
2009).
Algumas das pesquisas mais recentes sugerem que a depressão está associada à
disfunção na forma como partes do cérebro em repouso interagem entre si (Broyd, 2008); A
acupuntura demonstrou ser capaz de alterar a “rede de modo padrão” (Dhond 2007), e os
resultados ultrapassam o efeito placebo (Hui, 2010).
A acupuntura pode ser combinada de forma segura com tratamentos médicos
convencionais, com antidepressivos, ajudando a reduzir seus efeitos colaterais e a melhorar seus
efeitos benéficos (Zhang, 2007).
O tratamento com acupuntura também pode ajudar a melhorar disfunções físicas como a
dor crônica (Zhao 2008), que pode ser uma causa contributiva da depressão.
Os sintomas psiquiátricos de depressão e ansiedade são associados a
neurotransmissores-chaves, como a serotonia, Noradrenalina e Dopamina, bem como alguns
hormônioios. A depressão também pode estar associada à desregulação do eixo Hipófise-
Hipotálamo- Adrenal (HPA). Vários estudos experimentais de animais e humanos indicam que as
agulhas de acupuntura tem efeitos fisiológicos demonstráveis e que pode modificar o
funcionamento neural atualmente relacionados na fisiopatologia de distúrbios afetivos.
A acupuntura também modula sistemas neuroendocrinos e imunológicos e pode tratar a
depressão regulando os níveis de serotonina, adrenalina, dopamina, endorfinas ou
glicocorticóides, estimulando a resposta hipotalâmica.
Na Medicina Tradicional Chinesa, a etiologia proposta para os transtornos mentais é
causado pela desregulação das 7 emoções, que são: alegria, raiva, preocupação, contemplação
(pensamento), tristeza, medo e choque. Quando 1 das 7 emoções está em excesso, pode gerar
mau funcionamento do zang-fu (órgãos internos), resultando em desordem mental, conforme
descrito no livro Nèi Jīng, 内 经. Por exemplo, a ira excessiva prejudica o fígado, a alegria
excessiva danifica o coração, o pensamento excessivo danifica o baço, sofrimento excessivo
danifica o pulmão e o medo excessivo prejudicam os rins.
Referências:
Manber R et al. Acupuncture for depression during pregnancy: a randomized controlled trial.
Obstetrics and Gynecology. 2010; 115(3):511-520.
Xie YC. Li YH. [Observation on therapeutic effect of acupuncture at Zhongwan (CV 12) and Siguan
points combined with reinforcing-reducing manipulation of respiration for treatment of
depression]. [Chinese] Zhongguo Zhenjiu.2009; 29(7):521-4
Fu WB, Fan L, Zhu XP, He Q, Wang L, Zhuang LX, Liu YS, Tang CZ, Li YW, Meng CR, Zhang HL,
Yan J. Acupuncture for treatment of depressive neurosis: a multi-center randomized controlled
study. Zhongguo Zhen Jiu. 2008 Jan;28(1):3-6.
Zhang GJ, Shi ZY, Liu S, Gong SH, Liu JQ, Liu JS. Clinical observation on treatment of depression
by electro-acupuncture combined with Paroxetine. Chin J Integr Med. 2007 Sep;13(3):228-30.
Allen JJ et al. Acupuncture for depression: a randomized controlled trial. J Clin Psychiatry. 2006
Nov;67(11):1665-73.
Röschke J, Wolf C, Müller MJ, Wagner P, Mann K, Grözinger M, Bech S. The benefit from whole
body acupuncture in major depression. J Affect Disord. 2000 Jan-Mar;57(1-3):73-81.
Eich H, Agelink MW, Lehmann E, Lemmer W, Klieser E. Acupuncture in patients with minor
depressive episodes and generalized anxiety. Results of an experimental study. Fortschr Neurol
Psychiatr. 2000 Mar;68(3):137-44.
Hui KK et al. Acupuncture, the limbic system, and the anticorrelated networks of the brain. Auton
Neurosci. 2010 Oct 28;157(1-2):81-90.
Wang XJ, Wang LL. [A mechanism of endogenous opioid peptides for rapid onset of acupuncture
effect in treatment of depression.] Zhong Xi Yi Jie He Xue Bao. 2010 Nov 15;8(11):1014-1017.
Kim H et al. The effects of acupuncture stimulation at PC6 (Neiguan) on chronic mild stressinduced
biochemical and behavioral responses. Neuroscience Letters. 2009; 460 (1) (pp 56-60)
Zhao ZQ, Neural mechanism underlying acupuncture analgesia. Prog Neurobiol. 2008 Aug;85(4):
355-75.
Pohl A, Nordin C. Clinical and biochemical observations during treatment of depression with
electroacupuncture: a pilot study. Hum Psychopharmacol. 2002 Oct;17(7):345-8.
Scott S, Scott WN. A biochemical hypothesis for the effectiveness of acupuncture in the
treatment of substance abuse: acupuncture and the reward cascade. Am J Acupunct 1997;25:33–
40.

PARKINSON E A MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

A doença de Parkinson (DP) é uma doença neurodegenerativa com comprometimento
motor que inclui tremor em repouso, rigidez, bradicinesia e anormalidade postural. Estudos
epidemiológicos mostram que a prevalência da DP nos países industrializados geralmente é
estimada em 0,3% de toda a população e em ~ 1% em pessoas com mais de 60 anos de idade.
Apesar de vários avanços na compreensão da doença de Parkinson (DP), o tratamento
farmacológico da DP pela medicina ocidental é principalmente para o gerenciamento de
sintomas. Entre os diferentes tratamentos farmacológicos, a levodopa continua sendo a mais
eficaz e continua sendo também a base da terapia. No entanto, o uso prolongado de levodopa
pode causar complicações motoras incapacitantes, particularmente discinesias e flutuações
motoras, o que limita sua utilidade. Ambas as complicações motoras foram encontradas em ~ 40
e 70% dos pacientes após 5 anos e 15 anos de tratamento com levodopa, respectivamente.
Além disso, combinados com anormalidades motoras, muitos aspectos não-motores da DP
podem afetar significativamente a qualidade de vida dos pacientes, causando problemas como
disfunção autonômica, constipação, náuseas, interrupção do sono, dor, sonolência diurna
excessiva e distúrbios do humor. Esses problemas geralmente não respondem e podem até ser
piorados por tratamentos médicos convencionais ocidentais.
Em vista dos efeitos colaterais indesejáveis a longo prazo da medicina ocidental, muitos
pacientes procuram tratamento Complementares para a DP. A medicina tradicional chinesa (MTC)
tem sido utilizada há milênios para tratar condições como o tremor das mãos e a agitação da
cabeça. A medicina herbal chinesa continua sendo muito popular para o gerenciamento da
Doença de Parkinson em países asiáticos, como China, Coréia e Japão. Em um estudo realizado
por Rajendran et al., Observou-se que 40% dos pacientes com DP. usam pelo menos uma forma
de medicina Oriental. A medicina herbal é uma das três formas mais populares de técnicas
adotadas por pacientes com DP. Um estudo do Japão avaliou o papel da medicina herbal chinesa
em pacientes com Parkinsonismo induzido por antipsicóticos. Com o uso de uma fórmula padrão
de 10 ervas, os investigadores demonstraram uma redução significativa no tremor em pacientes.
Ao contrário da medicina ocidental, os diagnósticos da MTC de DP cai em diferentes
categorias de acordo com a constituição fundamental do paciente. Segundo a MTC, a DP é uma
condição que representa uma depleção de energia, especialmente no baço e no estômago. As
drogas à base de plantas foram, portanto, utilizadas no tratamento da DP sob a orientação geral
de “fortalecer o baço e regular o estômago”. ” Jia Wei Liu Jun Zi Tang ” (JWLJZT) é uma
formulação antiga desenvolvida por um médico chinês Zhang Lu em 1695 dC, com a função
específica de tonificar a energia ( Qi ) do baço e estômago; Tem sido usado para tratar sintomas.
Como resultado, a receita da medicina tradicional Chinesa de 11 ervas, resultou em
melhora significativa em algumas complicações não-motoras de tratamento de remédios
convencionais e habilidades de comunicação em pacientes com DP idiopática. Estudos dos
mecanismos bioquímicos pelos quais o JWLJZT afeta a DP, podem apontar o caminho para
novos avanços e ainda melhor tratamento clínico da DP.
Referência:
Treatment of Idiopathic Parkinson’s Disease with Traditional Chinese Herbal Medicine: A
Randomized Placebo-Controlled Pilot Clinical Study
Wan Fung Kum, Siva Sundara Kumar Durairajan, Zhao Xiang Bian, Sui Cheung Man, Yuen Chi
Lam, Li Xia Xie, Jia Hong Lu, Yan Wang, Xian Zhang Huang, and Min Li